sexta-feira, 21 de agosto de 2009

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Acabaram-se os papéis

Não se assustem com o título, apenas não precisamos mais guardar os comprovantes de pagamento de contas por 5 (cinco) anos. O nosso presidente da república sancionou lei onde as empresas são obrigadas a emitir e nos enviar anualmente uma declaração de quitação de débitos.

Caso queira saber mais acesse a LEI Nº 12.007, DE 29 DE JULHO DE 2009.

Simone da Silva Figueiredo
(autora do BLOG)

Mudanças no Padrão de Fecundidade - O Brasil e o Mundo

Aos colegas ...
... que estão acompanhando esta importante discussão sobre o futuro da humanidade (um pouco de humor não faz mal a ninguém!!!!),

Sim, por que está em jogo o futuro da humanidade?

Todos nós queremos aumentar o IDH, isto é, todos nós (acho que, em palavra, até o senador Sarney) queremos maior qualidade de vida para a população do Brasil e do mundo. Mas se a relação entre desenvolvimento humano e fecundidade é inversa, ou seja, quanto maior o IDH menor o número de filhos tidos, então estaremos todos condenados ao regime de lowest-low-fertilit iy (taxas abaixo de 1,35 filhos por mulher). Para se ter uma idéia, uma fecundidade neste nível reduz uma população estável fechada pela metade em menos de 50 anos. Como a redução é exponencial, em 200 anos uma população, nestas condições, se reduz em mais de 16 vezes. Por exemplo, até 2200, o Japão passaria de 127 milhões para menos da população de Minas Gerais e o Canadá passaria para uma população menor do que a de Belo Horizonte. Nos 200 anos seguinte praticamente desapareceriam, segundo o modelo teórico.

Portanto, não é desprezível a discussão sobre a possível reversão da tendencia expressa pela abordagem da transição demográfica (relação inversa entre desenvolvimento e fecundidade, pois a relação positiva de Malthus nunca existiu). Acho que o trabalho de Mikko Myrskylä, Hans-Peter Kohler e Francesco C. Billari é louvável no sentido de sugerir que a Europa (e mais alguns paises como Japão, Coreia, Canadá) não está condenada a desaparecer (ou ser invadida por migrantes como é o temor de David Coleman e companhia).

Acontece que o trabalho de Myrskylä et. al. utiliza a fecundidade de período para comparar com o IDH. Entendo que aí cabe uma crítica, pois a fecundidade de período caiu muito (para o nível do lowest-low-fertilit y) por conta do efeito tempo. Isto é, a fecundidade caiu a níveis muito baixos porque as mulheres estavam adiando o nascimento dos filhos. Passado o efeito tempo, a fecundidade de período, expressa na TFT, volta a “subir”, ou seja, ela se recupera dos níveis baixissimos, passando de menos de 1,3 filho para algo como 1,4 ou 1,5 filho, etc. Esta é a “grande luz” esperançosa do trabalho de Myrskylä et. al.

Quais são os problemas?

Mesmo considerando a fecundidade de período, países como Japão, Coreia do Sul e Itália não apresentaram recuperação da fecundidade (TFT). Nestes países houve adiamento dos nascimentos, mas não houve “tempo” para aumento da fecundidade antes do fim do período reprodutivo (como já afirmou Lesthaeghe adiou, adiou e perdeu o tempo).

Mas o problema metodológico mais sério é este apresentado por Edward Hugh (matéria enviada pelo Bernado), pois para se avaliar se houve reversão da relação entre desenvolvimento e fecundidade é preciso utilizar, não a TFT, mas a “descendencia média final” das sucessivas coortes. E neste ponto, Hugh mostra que não houve recuperação expressiva na Europa.

Contudo, olhando os dados do gráficos apresentados por Hugh percebemos que alguns países como Noruega, Finlancia, Islandia, Suécia, Luxemburgo a fecundidade está próxima de 2 filhos por mulher, enquanto diversos outros continuam com fecundidade muito baixa.

Qual a diferença entre estes dois grupos de países?

Existem duas diferenças fundamentais ao meu ver:

1) Como já discutido nos autores citados e nesta lista P & P, as questões de gênero contam (gender matter!). Os países desenvolvidos com maior equidade de gênero possuem TFT mais alta do que aqueles que segregam as mulheres e dificultam a conciliação entre trabalho e família;

2) A outra questão ainda não aborda aqui é a chamada DESFAMILIZAÇÃO.

Dois autores são fundamentais para se entender esta questão – “Esping-Andersen” (ver a personal page do autor: e “Peter Mcdonald”

[Por exemplo, McDonald, P. (2000a). Gender equity in theories of fertility transition. Population and Development Review 26(3), 427–440].

O que Esping-Andersen e McDonald dizem é que é preciso, dentro de um sitema de proteção social, criar políticas amigáveis às mulheres (women-friendly) e evitar o familismo, que é a transferência para a família da responsabilidade pelo bem-estar de seus membros e a subordinação dos interesses e prerrogativas pessoais (especialmente das mulheres) aos valores e demandas da família. Com diz Esping-Andersen[i]:

“A redução ao mínimo das dependências familiares pressupõe um estado social radicalmente diverso. Fundamentalmente, através da desfamilização das responsabilidades de bem-estar, o welfare state social-democrata ajuda as mulheres a entrarem em relações mercantis (e a conquistarem uma maior independência dos homens) para poder posteriormente se desmercantilizarem”.


Por fim, os Estado Unidos são a grande exceção[ii] entre os países desenvolvidos, pois é o único país que tem apresentado variações significativas nas taxas de fecundidade ao longo dos últimos 80 anos. A fecundidade caiu na década de 1930, subiu no baby-boom do pós-guerra, caiu ao nível mais baixo na década de 1970 e voltou ao nível de reposição entre nos últimos anos e agora apresenta tendência de queda com a crise atual.

Desculpem o tamanho desta mensagem, mas acho que esta discussão é importante, pois pode ser que o Brasil caminhe para um regime de fecundidade muito baixa (com suas implicações no envelhecimento populacional, etc.). A experiência dos países desenvolvidos pode lançar luz para estudos e hipóteses sobre o futuro do Brasil.

Um bom domingo para todas e todos,

José Eustáquio Alves.
(Professor Doutor da Escola Nacional de Ciências Estatísticas, entre outras muitas atribuições e qualificações)
Retirado da lista de discussão da ABEP, postado em 09 de agosto de 2009.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009